O som do tambor ecoou pela mata naquele sábado. A comunidade foi chegando a pé com seus instrumentos ao passo que alguns eram buscados de carro devido ao cansaço carregado nas pernas enrugadas de histórias. Nosso estúdio não era cercado por espumas e concreto mas de verde, um verde que inspira, remete aos tempos quando cantigas eram entoadas em roda, entorno ao fogo que à noite esquentava os tambores pela ausência do sol. Dizem que a técnica de esquentar o couro fora adquirida por diálogos com os negros, vindos da África. Que o som do tambor indígena era agudo e fraco, quase servindo apenas de marcação rítmica. Muitas dúvidas pairam sobre a formação do que hoje chamamos de congo, de canções outrora chamadas de cantigas de roda, dança do tambor, dança do guerreiro.
Acredito que ansiavam por aquele momento tanto quanto nós. Nossa estrutura estava de arrepiar, conseguimos juntar equipamentos dos próprios membros da equipe, em adição aos emprestados pela faculdade Faesa, de extrema importância, e estávamos todos a postos. Logo, os Tupinikim estavam alí, com seus tambores e casacas em mãos, expressões contentes, apesar de conterem um pouco de desconfiança no evento. Contudo, ao soar do apito soprado por Seu Olindo, as primeiras batidas foram ouvidas, seguidas do esfregar das casacas que agora invadiam a roda, e logo todos cantavam juntos, em uníssono. Nosso objetivo para o projeto era de gravar algumas poucas músicas mas aproveitamos o momento para deixá-los tocar mais. Tocaram principalmente aquelas que estão se perdendo, que devem ser passadas aos mais novos.
Todos, nós e eles, percebemos que em alguns momentos não se entenderam tão bem musicalmente quanto de costume, que as escassas vezes que se juntavam para o tradicional bater do tambor quem sabe não estavam sendo suficientes para manter a sinergia musical antes existente, que estavam falando línguas um pouquinho diferentes, ou com sotaque desconhecido uns dos outros. Confesso que algumas canções não ficaram perfeitas. Agora, as que ficaram, dão gosto de ouvir e ter tão perto de nós. Em breve terão o prazer de escutá-los bem pertinho.
Há um tempo devíamos ter postado o vídeo. Ficamos em dívida com a rapazeada, formada principalmente por adolescentes, que o produziram e filmaram, e que nos cobraram bastante! Chama-se “A Dívida”. É com muito orgulho que apresentamos o resultado de nossa primeira oficina nas aldeias. Aqui vai!
Será o início da carreira de videomaker de alguns participantes? O projeto Vídeo nas Aldeias os espera!!
Em breve mais posts, dessa vez sobre a gravação das músicas étnicas, uma experiência inenarrável para todos. Visitem-nos!
Acabei atrasando um pouco as postagens do blog e não compartilhei nossa primeira oficina nas aldeias, que foi excelente! Essa etapa é para qualificar ainda mais o pessoal para que participem das próximas etapas… afinal, o projeto só existe se todos participarem de tudo. As interações se deram de forma muito tranquila, eles foram bem receptivos desde o início do projeto e assim o foi nesta etapa que apresento. Cheguei sendo apresentado por pessoas próximas que trabalham com eles em diferentes projetos, o que facilitou bastante a aceitação do projeto por eles. Geralmente me comunico via os coordenadores Tupinikim e Guarani, Jocelino e Marcelo Wera Djekupe, que replicam as informações e ajudam a organizar e divulgar os eventos do nosso projeto. E assim Jocelino fez com nossa primeira oficina, voltada para os Tupinikim. Abaixo o cartaz da oficina e os coordenadores.
No começo da oficina eles ficaram tímidos, achamos até que seria complicado trabalhar com eles, principalmente por nossa oficina ser também prática. Outro fator é a faixa média de idade, que girava em torno de 13 a 15 anos, apesar da presença de alguns mais velhos e até professores da escola de Caieiras Velha! Contudo, ao longo dos primeiros minutos, nós começamos a brincar mais e o gelo foi sendo quebrado, eles se soltaram e se mostraram participantes disciplinados e divertidos.
Temos certeza de que a oficina atingiu o objetivo esperado, plantamos a semente na cabeça deles e ensinamos as técnicas básicas para produção audiovisual. E a galera pareceu bem empolgada para continuar produzindo, vários deles nos perguntaram incessantemente quando será a próxima oficina. Os oficineiros também não veem a hora da próxima acontecer!
Estivemos refletindo sobre o projeto e as características dele, percebemos que não se trata de comunidades que enfrentam problemas econômicos tão sérios, pois são sérios, mas sim tem lidado com problemas socio-políticos complexos durante os últimos anos. Esses problemas socio-políticos são intrinsecamente relacionados com as expressões artístico-culturais, que é o foco do nosso trabalho, portanto, posso dizer que o diferencial é conseguir desenvolver um trabalho que respeite os códigos existentes nesses âmbitos e contribua no sentido de reforçar a música, a dança, o artesanato, a cultura.
Digo a vocês, foi cansativo, prazeroso, enriquecedor e gerou grande satisfação para todos os envolvidos. Estamos certos que proporcionou um ótimo começo de projeto. E em breve colocaremos o vídeo que eles produziram aqui, para que vocês assistam! Outra coisa que digo é que já fizemos outra etapa sair do papel, extremamente significativa para o Linguagens da Terra e que conseguimos desenvolver com êxito! 🙂
Acompanhem, visitem-nos!
Há de novo que o projeto já começou! Mas deve existir a dúvida de qual projeto se trata, afinal, ainda sou apenas um perfil com nome de Caio Perim. Pois bem, esse tal de Caio resolveu fazer um trabalho de conclusão de curso que vão conhecer nos próximos posts e meses que se seguem… a começar nesse primeiro, em que já apresento nosso projeto! Digo nosso porque nada dele aconteceria sem a participação ativa dos envolvidos.
O audiovisual permite várias formas de se relacionar com sujeitos no processo de captura de momentos, nas análises proporcionadas por esses momentos. Tem nós falamos deles, eles falam deles, eles falam de nós, nós falamos de nós e por aí vai… decidi propor o nós, com eles, falamos deles, que por sua vez falarão de nós, por nós, que talvez se tornem um pouco como nós, e nós um pouco como eles.
Pela beleza de interações culturais reflexivas resolvi levantar o projeto Linguagens da Terra, que objetiva produzir colaborativamente músicas e vídeos por índios das etnias Tupinikim e Guarani e equipes qualificadas na área de produção audiovisual, num diálogo lúcido voltado ao étnico em sua existência global, o primevo e o remodelado, o reinventado. O projeto reforça os processos de revitalização e visibilidade das culturas Tupinikim e Guarani por meio da inserção dos materiais audiovisuais na internet para disponibilizá-los para os próprios índios e, principalmente, para quaisquer outros indivíduos ou grupos culturais em qualquer lugar do mundo.
O que produziremos e como faremos vai sendo mostrado nos próximos posts, também no site que está sendo criado. Já adianto que a primeira oficina de audiovisual já aconteceu, e foi surpreendente. Acompanhem, visitem-nos!