O som do tambor ecoou pela mata naquele sábado. A comunidade foi chegando a pé com seus instrumentos ao passo que alguns eram buscados de carro devido ao cansaço carregado nas pernas enrugadas de histórias. Nosso estúdio não era cercado por espumas e concreto mas de verde, um verde que inspira, remete aos tempos quando cantigas eram entoadas em roda, entorno ao fogo que à noite esquentava os tambores pela ausência do sol. Dizem que a técnica de esquentar o couro fora adquirida por diálogos com os negros, vindos da África. Que o som do tambor indígena era agudo e fraco, quase servindo apenas de marcação rítmica. Muitas dúvidas pairam sobre a formação do que hoje chamamos de congo, de canções outrora chamadas de cantigas de roda, dança do tambor, dança do guerreiro.
Acredito que ansiavam por aquele momento tanto quanto nós. Nossa estrutura estava de arrepiar, conseguimos juntar equipamentos dos próprios membros da equipe, em adição aos emprestados pela faculdade Faesa, de extrema importância, e estávamos todos a postos. Logo, os Tupinikim estavam alí, com seus tambores e casacas em mãos, expressões contentes, apesar de conterem um pouco de desconfiança no evento. Contudo, ao soar do apito soprado por Seu Olindo, as primeiras batidas foram ouvidas, seguidas do esfregar das casacas que agora invadiam a roda, e logo todos cantavam juntos, em uníssono. Nosso objetivo para o projeto era de gravar algumas poucas músicas mas aproveitamos o momento para deixá-los tocar mais. Tocaram principalmente aquelas que estão se perdendo, que devem ser passadas aos mais novos.
Todos, nós e eles, percebemos que em alguns momentos não se entenderam tão bem musicalmente quanto de costume, que as escassas vezes que se juntavam para o tradicional bater do tambor quem sabe não estavam sendo suficientes para manter a sinergia musical antes existente, que estavam falando línguas um pouquinho diferentes, ou com sotaque desconhecido uns dos outros. Confesso que algumas canções não ficaram perfeitas. Agora, as que ficaram, dão gosto de ouvir e ter tão perto de nós. Em breve terão o prazer de escutá-los bem pertinho.