Resumo:
Acompanhado de pesquisa acadêmica, para trabalho de conclusão de curso em ciência do Rádio e da Televisão, acerca de comunicação de grupos marginalizados e dos povos indígenas remanescentes no estado, de seus costumes e expressões culturais, versões de músicas indígenas e videoclipes serão produzidos colaborativamente por índios das etnias Tupinikim e Guarani e equipes qualificadas na área de produção audiovisual. Após a execução dos mesmos, objetivo reforçar o processo de visibilidade das culturas indígenas em questão por meio da inserção na internet dos videoclipes produzidos para apreciação dos próprios índios e, principalmente, de quaisquer outros indivíduos ou grupos culturais em qualquer lugar do mundo.
Introdução:
Este trabalho de pesquisa acadêmica para conclusão de curso em ciência do Rádio e da Televisão levanta o debate acerca de comunicação de grupos marginalizados e dos povos indígenas remanescentes no estado dialogando com a possibilidade de visibilidade de seus costumes e expressões culturais. Vivemos num mundo em acelerado processo de intercâmbios culturais, o que, percebendo-se a partir da quantidade de pesquisadores engajados nos debates acerca do assunto, acaba por tornar nosso futuro cultural uma incógnita. É evidente que há uma miscigenação intensa de diferentes costumes, uma tendência à homogeneização cultural no âmbito internacional, contudo, pode-se perceber que ao passo que esse movimento ocorre há, em decorrência ou apenas concomitantemente, processos de revitalização e apreciação de culturas antes esquecidas ou fadadas ao desaparecimento. Esse mundo interconectado a altíssimas velocidades permite que haja novas formas de se difundir idéias, produtos audiovisuais. Finalmente abriram-se possibilidades mais democráticas para exibição audiovisual para grandes audiências, sem custos ou a baixos custos, numa velocidade que permite a transformação de anônimos em estrelas em poucos minutos. Culturas podem ser mostradas, se mostrarem, serem apreciadas por eles mesmos e por quaisquer outros indivíduos ou grupos culturais em qualquer lugar do mundo. Para tal, basta emergirem nessa rede mundial fluida e múltipla de computadores. Serão produzidos colaborativamente músicas e vídeos por índios das etnias Tupinikim e Guarani e equipes qualificadas na área de produção audiovisual, num diálogo lúcido voltado ao étnico em sua existência global, o primevo e o remodelado, o reinventado. O projeto reforça os processos de revitalização e visibilidade das culturas Tupinikim e Guarani por meio da inserção dos materiais audiovisuais na internet para disponibilizá-los para os próprios índios e, principalmente, para quaisquer outros indivíduos ou grupos culturais em qualquer lugar do mundo. Outras culturas marginalizadas já são mais facilmente encontradas tanto em seu estado mais primórdio quanto em produtos feitos para consumo. Por outro lado os grupos indígenas no Brasil, na sua maioria, além de não serem conhecidos em profundidade, vivem um intenso e difícil processo de resistência cultural diante das ameaças de desaparecimento provocadas pela dominação da cultura não-índia da sociedade envolvente e pelas inevitáveis relações de contato, quando subjugados e cerceados ao longo de centenas de anos. Vale ressaltar que as comunidades indígenas capixabas estão em franco processo de reapropriação de terras, identidade e culturas. A intenção aqui não é a de atender a uma expectativa nossa no sentido de que eles vivam da maneira que viviam há séculos, pois a cultura não é um fenômeno estático e todos tem o direito de escolha de como viverem suas vidas, porém de colaborar com estes grupos no seu propósito de divulgar suas culturas para a sociedade que os envolve e não os compreende.
Objetivo Primário:
Demonstrar formas de inserção da cultura indígena, seu modo de organização e expressões artístico-culturais, através de um meio de mídia democrático, de modo a compreender o processo de midiatização de culturas populares e as possibilidades geradas pelo advento da Internet, sobretudo no processo de visibilidade dessas culturas pouco conhecidas e difundidas.
Objetivo Secundário:
Ampliação da capacitação técnica dos indígenas para produção audiovisual e contribuir com os processos de revitalização e manutenção de expressões artístico-culturais em questão através dos materiais audiovisuais postados na internet, músicas e vídeos gravados ao longo do processo.
Metodologia Proposta:
A pesquisa científica por mim desenvolvida conterá características da pesquisa exploratória, por se tratar de um assunto ainda pouco trabalhado. Na execução da pesquisa serão promovidas dinâmicas de diálogos com e entre os membros das comunidades participantes, no sentido de compartilhar conhecimentos acerca de suas expressões artístico-culturais. O processo se dará de forma colaborativa, ou seja, todos participarão das etapas, índios e não índios, apesar de serem coordenadas em sua maioria por não índios. Considerando-se esse processo de integração dos participantes e execução dos produtos em conjunto nas comunidades estudadas, pode-se também entender que parte do projeto utiliza-se da metodologia de pesquisa experimental, a fim de se explorar as linguagens audiovisuais que podem ser desenvolvidas ao longo do processo. “A pesquisa experimental parte da análise de um fenômeno delimitado sobre o qual formula hipóteses prévias de verdade, e métodos explícitos de verificação, submete o fenômeno à experimentação em condições de controle, cuidando ciosamente da validade interna das hipóteses a fim de extrair leis (nomotéticas), fazer generalizações e elaborar teorias explicativas do fenômeno observado.” (CHIZZOTTI, 1991, p.26). O trabalho será iniciado com pesquisas bibliográficas acerca de comunicação de grupos marginalizados e do aperfeiçoamento de técnicas de difusão audiovisual na internet por meios acessíveis à maiores parcelas da sociedade, a baixo custo. Serão realizados debates para entendimento das diferentes expressões artístico- culturais dos povos em questão, para posteriormente serem registradas em forma de fotografias, catalogadas e adicionadas ao acervo por eles mantido. Em debates com os músicos locais serão decididas as músicas a serem executadas e escolhidos os músicos que participarão do projeto. A partir das músicas étnicas, gravaremos versões rearranjadas e executadas por músicos índios e não índios. Contamos com algumas possibilidades para tais gravações.Todas as etapas serão divulgadas na internet através do site que será criado especialmente para o projeto e outras ferramentas como blog, facebook, vimeo, youtube, dentre outros, atendendo ao desejo destas comunidades em divulgar suas culturas. A primeira oficina de audiovisual será aberta para ambos os povos, com a escolha dos integrantes sendo feita a partir da indicação das próprias comunidades, no intuito de iniciar um contato e perceber quais os entendimentos deles acerca de audiovisual, além de motivá-los a usarem os equipamentos que já possuem mas não se consideram adequadamente aptos a operarem. Será realizada uma segunda oficina de audiovisual, desta vez para prepararmos ainda mais a equipe para a produção dos videoclipes. Esta oficina terá como meta qualificar uma quantidade específica da equipe indígena para ocupar posições na produção dos videoclipes. A etapa seguinte será para criação da concepção estética dos vídeos e elaboração dos roteiros. Em seguida serão gravados os videoclipes. Disporemos de dois dias consecutivos para gravar os dois videoclipes, sendo reservado um dia para cada povo indigena envolvido. Temos ciência que o final de semana de gravação dos videoclipes será o de maior desafio, pois reunirá o maior número de pessoas envolvidas no projeto. Concluídas as filmagens, iniciaremos a decupagem e a edição dos vídeos. Ao final, para que o projeto atinja sua significância almejada, nos encontramos no momento de divulgar os produtos finais na internet, sendo este de grande importância para o projeto. Na preparação dos vídeos e músicas para upload, seremos acompanhados por uma equipe de dois Tupinikim e dois Guarani que aprenderão esses procedimentos no intuito de replicarem o conhecimento posteriormente. Com isso, garantiremos a continuidade de produção e postagem de materiais audiovisuais por eles produzidos, sem a necessidade de parcerias externas, cooperando para com o processo de autonomia em suas produções futuras.
Critério de Inclusão:
Ser habitante de uma das dez aldeias localizadas nas Terras Indígenas do Espírito Santo que compreendem cerca de 4000 indivíduos. Em alguns momentos do desenvolvimento do projeto, o critério de inclusão será definido pelos grupos envolvidos tendo como referência a necessidade de adequação à etapa específica da pesquisa. Por exemplo: quando da pesquisa experimental, haverá uma mostragem do grupo diretamente envolvido, cujo critério de escolha ficará a cargo das próprias comunidades conforme prática jaadotada por elas.
Critério de Exclusão:
Não ser habitante de uma das aldeias localizadas nas Terras Indígenas do Espírito Santo ou que não sejam incluídos nas etapas específicas da pesquisa e que dependam da redução do número de sujeitos envolvidos.
Riscos:
Os habitantes das Terras Indígenas da região de Aracruz estão fortemente ligados com a sociedade envolvente, nos âmbitos laborais, culturais, festivos, circulação cotidiana em ambientes não indígenas. Há uma demanda, manifesta por partes dos dois povos, por capacitação técnica audiovisual. Ademais, há interesse em divulgar para a sociedade envolvente suas culturas, pois preocupam-se em informar para frear o preconceito e a discriminação sofridos nas relações interetnicas, de modo que o projeto, por ter boa aceitação, não apresenta risco de impacto negativo, no sentido de imposição cultural.
Benefícios:
As oficinas propiciarão momentos de interação entre profissionais da área de audiovisual e índios interessados no aprendizado das técnicas ensinadas. Tendo em vista que as oficinas serão ministradas considerando-se os equipamentos acessíveis a eles, serão ensinadas técnicas de produção de baixo custo, e que alguns já participaram de oficinas de audiovisual, haverá a continuidade da produção audiovisual nas terras indígenas da região de Aracruz. Também digno de citação é o foco de reforço do processo de revitalização das culturas em questão ao longo do projeto. Como produtos culturais teremos uma música tradicional de cada etnia indígena gravada, uma versão de cada música étnica rearranjada e gravadas por músicos índios e não índios do ES, dois videoclipes a partir das músicas étnicas ou rearranjadas e ferramentas da internet como site, blog, contas no Vimeo e no Youtube, página no Facebook, dentre outros, para divulgação dos materiais produzidos. É de suma importância frisar que o material audiovisual produzido será registrado e os direitos devidamente garantidos.
Metodologia de Análise de Dados:
Análise de dados bibliográficos recolhidos na pesquisa bibliográfica e dos dados obtidos a partir do processo de conversação com as comunidades indígenas acerca de suas expressões artístico-culturais.
Desfecho Primário:
Formar indígenas qualificados para a produção audiovisual e reforçar os processos de revitalização e manutenção de expressões artístico-culturais em questão através dos materiais audiovisuais postados na internet, músicas e vídeos gravados ao longo do processo.
Desfecho Secundário:
Apresentação de relatório final da pesquisa descrevendo os resultados alcançados.
Público Alvo:
Por se tratar de um projeto envolvendo pesquisa acadêmica, composição e gravação de músicas, produção audiovisual e divulgação dos processos assim como os produtos finais na internet, sempre primando por ações colaborativas, abrangerá uma grande quantidade de pessoas direta e indiretamente. A começar por doutores, mestres e outros pesquisadores já aderidos ao projeto como orientadores e, sobretudo, amigos entusiastas. Índios, principalmente os mais jovens interessados nas pesquisas e produções, sejam eles músicos, atores, pesquisadores, agentes culturais, etc. Músicos convidados para fazerem as versões das canções e toda a equipe responsável por captação de áudio e gravação das músicas. Produtores e equipe responsável por planejar, executar, finalizar e distribuir os videoclipes em questão. Indiretamente, abrangerá os membros das duas etnias indígenas, que somados beiram o número de 1.000 famílias sendo aproximadamente 3.500 habitantes, segundo dados da FUNAI, universitários dos cursos de comunicação social, audiovisual, antropologia, dentre outros, e ambientes como as próprias aldeias e cidades ao redor, associações, entidades, universidades, escolas onde podem ser exibidos os vídeos e festivais de cinema. Em adição, deve-se ressaltar o poder de difusão de tais produtos ao serem veiculados na internet, em suas quase infinitas possibilidades, atingindo pessoas e lugares distantes no Brasil e no mundo.
Apoio